terça-feira, outubro 04, 2005

Corrupto

Segundo o dicionário este adjectivo significa estragado, apodrecido, dissoluto, pervertido, desmoralizado, alterado.
Entre nós é vulgarmente aplicado aos cadáveres e aos próceres da política e administração que se dedicam ao furto, ao favorecimento em proveito próprio ou dito mais pomposamente à apropriação “inadvertida” de bens públicos.
Na sociedade civil o termo é contudo pouco usado e todo aquele que assalta Bancos ou rouba galinhas é simplesmente chamado de ladrão. Não se usa o eufemismo de chamar a um ladrão o “corrupto das galinhas” ou o dito “dos Bancos”. De igual modo a fruta dos supermercados não merece a distinção do termo. Diz-se simplesmente que está podre.
Na sociedade civil para merecer o honroso epíteto, o assaltante do Banco teria de entrar pela porta da frente, usar gravata, e não usar nem armas, nem máscara, nem calças de ganga. Só assim poderia apelidado de corrupto e, seguramente, evitaria ser simplesmente chamado de ladrão.
Quando o Estado decide fazer um grande investimento público a sociedade civil, mesquinha e desconfiada, logo lhe atribui a torpe intenção de favorecimento de alguns. Esquece-se – pobre sociedade civil – que para avaliar da integridade dos intervenientes foi cuidadosamente criado um Conselho Fiscal nomeado pela maioria governamental e pago a peso de ouro por todos nós. Se por distracção alguma irregularidade for publicitada, reúne-se apressadamente uma Comissão Parlamentar de Inquérito, tendo o cuidado de pôr em maioria os inquiridores do próprio partido do poder para que tudo seja claro, transparente e eficientíssimo.
Impede-se sempre a entrada de estranhos porque se sabe que os ajuntamentos excessivos facilitam a propagação de epidemias, as anunciadas avícolas, de consequências sanitárias imprevisíveis. Não para encobrir o que quer que seja, como aleivosamente insinua a opinião pública e a inútil oposição, mas para evitar a propagação de mais uma das tais cabalas de tão funestas consequências como a mais mortífera das epidemias.
Os corruptos, felizmente, costumam ser fáceis de identificar. Quando vemos um grupo de homens sisudos, de gravata e fato escuro, gritar espalhafatosamente numa esquina: “É uma cabala! É tudo uma cabala!”, não precisamos de ir perguntar à vizinha ou ao polícia de serviço quem são. Podemos estar seguros que estamos perante um grupo de corruptos!
Recentemente Miguel Sousa Tavares afirmou que «A corrupção é um imposto oculto que pesa sobre os Portugueses.». Não será tão oculto como os políticos gostariam, nem tão transparente como todos nós desejaríamos.
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